sexta-feira, abril 28, 2006

Preconceito Reverso

Já não é de hoje, eu venho observando isso que eu chamo de preconceito reverso: antigas minorias oprimidas se voltam contra seus opressores, discriminando e estereotipando aqueles que outrora lhes discriminaram. São casos como o do chefe negro só contratar outros negros para cargos de chefia (visto no canal de televisão que Netinho montou ou pretende montar, não sei a quantas anda o seu projeto), o rapper favelado ter ódio pela Daslu ou o nordestino detestar o paulista (como aconteceu aqui no blog). Preocupa-me esse tipo de preconceito justamente porque ninguém o vê com maus olhos, como deveriam ser vistos, inventando uma guerra classista, onde só a minoria tem liberdade para agredir. Ninguém julga o Marcelo Yuka por ter dito o que disse sobre a Daslu, ninguém julga a baiana que entrou aqui pra falar que eu sou “daqueles paulistinhas, de classe média que senta a bunda na poltrona e acha que está mudando o mundo num tecle”. Eu não sou paulista, moro em São Paulo há quase dois anos e antes disso morei em Salvador por mais de quatro anos. Já cansei de ver baianos se referindo a paulistas de maneira pejorativa assim como já vi paulistas se referindo a baianos da mesma forma. O que às vezes confunde e incomoda (não digo que totalmente sem razão) é que aqui em São Paulo, o "baiano" é uma gíria, não expressando necessariamente preconceito ao grupo de pessoas nascidas na Bahia. Morei também no Rio de Janeiro e posso dizer que o “baiano” daqui de São Paulo é equivalente ao “paraíba” de lá, sendo que a última não é vista como preconceito regional. Sustenta a minha tese o fato de esta gíria ser usada pelos garotos de Malhação sem que isso se transforme em um escândalo. Outra coisa que pude perceber nas minhas andanças pelo Brasil é que, quando o baiano fala mal do paulista, ele encontra com facilidade outros baianos igualmente raivosos e igualmente instruídos para defendê-lo no seu ponto de vista preconceituoso, como se preconceito fosse só o ato praticado daqui pra lá ou como se preconceito se combatesse com mais preconceito. Já cansei de ter que me defender de bandos que atacavam o estilo de vida “sulista”, representado pelo paulista, mesmo sendo eu nascido em Minas Gerais, um estado neutro nessa celeuma. Não sou um defensor do manual do politicamente correto, não mesmo! Mas é muito fácil de identificar pra quem ouve ou pra quem lê o que é preconceito e o que é brincadeira. Acho o preconceito, quaisquer que sejam os atingidos, abominável e concordo com a punição que é dada a este crime no Brasil. Mas acho também necessário que a sociedade comece a ficar atenta àquilo que eu chamo de preconceito reverso, que dá margem ao re-estabelecimento de velhos preconceitos oriundos da maioria, alguns maciçamente superados, colocando grupos em lados opostos, gerando uma guerra social (desculpem se eu soei meio “MST” nessa última afirmação). E eu acho que ninguém quer isso.

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