SANDUÍCHES E PIPOCAS
Sempre critiquei o fato de as mulheres terem total controle da decisão em um relacionamento. São elas quem decidem se querem ou não te dar um beijo, se o relacionamento está maduro o suficiente ou não para encarar o sexo. Achava isso um absurdo. Pois é, achava. Recentemente descobri uma coisa que fez mudar completamente a minha opinião: eu não sei rejeitar uma mulher. Não sei dizer não a uma mulher sem ficar com aquela culpa de quem acaba de cometer uma viadagem imperdoável, com aquela culpa de quem desperdiça comida em um país de famintos. Vamos aos fatos: outro dia eu saí para um barzinho com amigos. No bar estava uma mulher que estava me dando um mole federal, mas que eu não queria pegar, a quem vou dar o nome fictício de Jupira. Ela me fitava insistentemente, e eu sempre desviando o olhar. Ela me seguia por todos os cantos e eu sempre a fugir. Tudo estava indo bem até que veio a hora da despedida. Aproximei-me com esta cara de babaca que Deus me deu, oferecendo-lhe um abraço inocente e um beijinho infantil no rosto. Jupira veio sedenta de saciar-se desse meu corpo esguio. Eu percebi o movimento dela, percebi que sua boca procurava a minha boca, sabia que o que aconteceria a seguir não era aquilo que eu desejava, mas vi-me impotente perante a determinação de Jupira e não consegui fazer valer a minha vontade. Deu no que deu. (...) Outro dia eu estava filosofando sobre este acontecimento, buscando entender o porquê da minha passividade. Na verdade mesmo, eu estou precisando é de uma namorada. Quero passar um tempo sossegado, longe das badalações da vida de solteiro. Gostaria de ter uma mulher que tenha gostos parecidos com os meus, mas pra falar a verdade, como a minha busca por essa mulher vem de seguidos fracassos, me contento se ela for sexualmente atrativa pra mim e que suporte as minhas manias chatas. Quero passar as noites de sábado vendo filminho em casa, quero ter alguém que me traga cervejas e tira-gosto enquanto eu assisto futebol, que me encha o saco porque eu saí com meus amigos no sábado à tarde e enchi a cara. Nunca pensei que fosse chegar a tal conclusão, mas a vida me pregou essa peça. O que não falta por aí é mulher pra tapar buraco, mas namorada mesmo está difícil, até por que eu não quero colocar a minha testa em risco por qualquer uma. Pela minha inaptidão em rejeitar mulheres que me confrontam, ao invés de dividi-las em pegáveis e não-pegáveis, passei a dividi-las em dois grupos particulares: as sanduíches e as pipocas. Acompanhe meu raciocínio metafórico: pipoca é uma coisa difícil de se recusar, mesmo quando se está sem fome. A pipoca incomoda mais do que traz benefícios, posto que ela te desidrata consideravelmente e ainda por cima gruda nos espaços entre os seus dentes de uma maneira que nem a física moderna consegue explicar. Mas quando alguém te oferece uma pipoquinha, você até pode recusar de início, mas vai acabar pegando um pouquinho. Jupira é pipoca. O problema é que atualmente eu estou com fome. Ando procurando desesperadamente um saboroso e suculento sanduíche, mas eu só acho barraquinha de pipoca. E cá pra nós, não dá pra matar a fome com pipoca.
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